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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Eu não sei sambar

Eu não sei sambar, amor
Eu não sei sambar
Eu não sei sambar, amor
Eu não sei sambar
Não é assim tão simples
Como dois pra lá e dois pra cá
Esse negócio de pisar na barata
Não é comigo
Eu gosto de samba, sim
O samba é meu amigo
Por favor, morena, entende o que eu digo
O problema são meus pés
Não é timidez
Frescura
Ou mau gosto musical
O que acontece é que
Eu não sei sambar, amor
Eu não sei sambar
Eu não sei sambar, amor
Eu não sei sambar
Quem foi que disse que o samba
Precisa estar na sola do sapato?
Ele está no meu coração
Na feijoada no meu prato
O samba está no pandeiro
Na saia da moça
E no sorriso
O samba está nessa canção que eu improviso
Eu não sei sambar, amor
Eu não sei sambar
Eu não sei sambar, amor
Eu não sei sambar
Por favor, Marina Morena
Não se chateie com seu preto
Sei que samba desde pequena
E com isso eu não me meto!
Agora, amor, não peça
Não me peça pra sambar
Que eu mato esse povo de rir
E os seus pés de tanto pisar
Eu não sei sambar, amor
Eu não sei sambar
Eu não sei sambar, amor
Eu não sei sambar

sábado, 4 de agosto de 2012

Amor Traiçoeiro

— Vô, o que é amor?
Seu Antônio abaixa a chave de fenda e para por uns instantes de consertar seu amado rádio velho. Volta-se para a neta, e inclina o queixo para baixo, mirando-a com os olhos por cima dos óculos, como se duvidasse da eficácia das lentes e as culpasse por aquela cena desconfortável.
– Como assim, minha querida? - perguntou, com a testa franzida, como se não tivesse ouvido, na esperança de ter mais tempo para pensar numa resposta adequada.
— Eu sei que o senhor ouviu! Só a minha avó acredita na sua surdez.
— Não se trata de não escutar, meu anjo, mas de não entender. Seja mais específica...
— Eu não posso ser mais específica se não sei o que é amor... Quero apenas um conceito.
— Bem... O amor é... Ora! O amor não se explica! O amor se sente, bem lá no fundo do nosso coração - disse, encostando a ponta da chave de fenda no peito esquerdo de sua neta.
— Mas o que exatamente se sente? Dói?
— Bem, isso depende de quem se ama, de como se ama... Por que a pergunta, querida?
— Nada, só queria saber os sintomas.
— Sintomas?
O velho deu uma gargalhada gostosa que acabou por desencadear uma crise de tosse. Foi obrigado a tirar os óculos para enxugar uma lágrima que caiu da força que usou para rir. Balançando a cabeça e ainda rindo um pouco, limpou as lentes na ponta de sua blusa e colocou os óculos de volta, olhando fixamente sua neta.
– Sintomas, meu anjo? E onde já se viu alguém ir ao médico por estar sofrendo de amor?
— O que eu quero dizer é que... Bem, quero saber o que se sente quando se ama, para que, um dia, se isso acontecer, eu não seja pega de surpresa.
— Mas se essa é a graça do amor! Ele pega a gente totalmente desprevenido! Ele é injusto, é traiçoeiro, é astuto! Não se pode prever não! Você está lá, tranquilo, e ele vem e pimba! Derruba e você nem percebe.
— Não se eu já estiver preparada.
— Minha querida, ninguém se prepara para o amor. Ouça seu avô... Um dia ele vai chegar e você vai entender o que estou dizendo.
A jovem desiste de argumentar e finge que acredita no que acabou de ouvir. O avô volta a mexer no velho rádio e finalmente consegue consertá-lo. Procura uma estação e, como se o destino o presenteasse, começa a tocar uma canção de seus tempos de jovem.
– Ah! Isso sim é que é música! Que voz, que mulher!
Retira sua boina, se curva e pega a mão de sua neta, tirando-a para dançar.
– Você pergunta o que é amor? Isso é amor!
— Isso o que? O que ela diz na música?
— O que ela diz na música não importa. Quando você conseguir ouvir essa música com o coração, não somente com os ouvidos, você vai saber o que é amor.
— É velha...
— É clássica, meu anjo. Clássica!
— Então o amor é isso?
— Não desdenhe, querida, não desdenhe.
E a melodia guiou os passos do senhor romântico e da jovem descrente. Por dois minutos apenas. Tempo de o rádio parar de funcionar novamente e arrancar gritos de Seu Antônio e risos de Joana.
— Realmente, vovô... O amor é traiçoeiro.


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Castelo de Cartas

Os sentimentos que tenho são estes aqui:
Bem na superfície da minha pele
A lágrima
O sorriso
O arrepio
Sempre fui saudável
Sempre fui inabalável
Poucas vezes proferi a palavra
"Inacreditável"
Andava cheia de certezas
Eu era cética
Ética
Quase patética
Como boa virginiana,
De uma disciplina espartana,
Tratei meus sentimentos com a mesma frieza
A mesma destreza
Com a qual arrumava, meticulosamente, os enfeites da mesa
E então vem Shiva para destruir a fortaleza que Vishnu construiu
É como se alguém assoprasse meu castelo de cartas
E me desse uma vontade demente de sorrir
É assim toda vez que você aparece
Meu coração bate como um mar em fúria,
Mas meus olhos transbordam felicidade
É um equilíbrio caótico
De repente eu me vejo permitindo
Que troquem os garfos de lugar
Que deixem as roupas no chão
Que estalem os dedos das mãos
Que ponham os pés no sofá
Que me mostrem o que é amar
Eu me vejo permitindo
E achando lindo
Que alguém agite
Minha vida de manias e tiques
E que me toque lá no fundo
Onde jamais tocou
Qualquer coisa do mundo

Ali Ter Ação

Uma dor
Um ardor
Bem
Onde
A onda
Da bunda
Se esconde