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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sobral

Contava as mesmas piadas

Que fazia há seculos,

Quando Cristo ainda era vivo.

Dava a mesma aula

Por gerações e gerações

Implantou o desespero nos corações

De jovens amantes da Literatura

Sua cabeça branca,

Pela idade e pelo pó de giz,

Lembrava o nome de todos os autores

Até do mais infeliz

E tinha um poder de persuasão tão efetivo,

Que fazia com que odiassem

O mais belo livro

Este poder é bastante visível

Na prova mais difícil

Que alguém poderia elaborar

Queria detalhes impossíveis de lembrar

Como o nome de um personagem coadjuvante

A flor do perfume da dama

Ou quantas penas tinha um cocar

Mas não se deixe enganar

Pelas broncas e histórias maçantes

Por debaixo daqueles pares de óculos e suspensórios,

Há uma pessoa brilhante.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Rima clichê

Eu queria fazer um poema
Com rimas, métrica e aliterações
Ou com qualquer coisa
Que se assemelhasse às canções
De Marisa Monte, Chico e Caetano
Não quero cantar um amor leviano
Ou um amor de um instante
Quero um amor duradouro,
De bronze ou de ouro
Eternizá-lo na estante
Queria falar da tua cor
Mas sem rimar com amor,
Que amor rima uma criança
Que de amor e dor todo mundo cansa
Queria falar do teu olhar
Sem compará-lo à luz do luar,
Que é rima clichê
E a lua todo mundo vê
Não quero falar de amores antigos
Não quero visitar o que em mim há de mais íntimo
Quero uma nova cor
Um novo ritmo
Aquilo que acabou de tocar
A superfície
Eriçando os pelos
Deixando seu cheiro,
A memória
E o estrago no peito
Quero aquilo que me faz chorar
Uma tolice
Que me arranca os cabelos
Num tiro certeiro
Que me transborde de glória
Toda vez que eu deito
Este poema é pra você,
Pra Marina,
Pra Carolina e a Sebastiana
Para quem quer um amor claro
Simples
E belo
Como os versos de Mário Quintana

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Lurdinha das Gramáticas

Água com gás
Cigarrinho
E chiclete
Se você não entendeu,
Lurdinha repete:
"Gente, a Gramática não é filosófica"
Fica repetindo
E repetindo
E repetindo
Tudo o que eu sei é:
"Período alexandrino"
Bolo de chocolate
Bolo de maracujá
Pão com manteiga
Pão com canela
Pão de cocada
"Professora, está na hora de fazer a chamada"
Macaco grande
Macaco pequeno
"Gente, vocês tão entendendo?"
Neve cadu
Neve shifu
Caindo no quintalzinho do meu iglu
Mas não pense que este é um assunto sem relevância!
Afinal, a neve pode matar uma criança
Lurdes pro Guilherme
Lurdes pra Thaís
Lurdes pro macaco Raí
Lurdes pro Teatro
Lurdes pro Palatão,
Pro Aristótlis e pro Soca
Lurdes pra você e eu
E a pergunta é:
"Entendeu?"

domingo, 6 de maio de 2012

Ela

Usando de seus truques, ela descobriu

Que gostavam dela

E era verdade

Já haviam se passado um milhão de mensagens

E olhares que diziam outra coisa,

Não só brincadeira

E ela foi certeira

Deu uma indireta

Jogou um verde

E todo o flerte

Agora estava revelado

Passou a se preocupar mais

Passou a se arrumar mais

Calcinha bege?

Jamais!

Enfeitou os olhos que, até então, ninguém sabia que eram verdes

Pintou os lábios dos quais não saía palavra alguma

E botou o seu vestido mais Geise

Porque sabia que, de alguma forma,

Suas pernas faziam palpitar um coração

Muito mais que um coração, pra falar a verdade

Ela descobriu que gostavam dela

Nos pequenos gestos, nas coisas mais belas

Num ceder o lugar próximo à janela

Num oferecer de um Trident de canela

No olhar invejoso da Marcela

No amor escondido que agora revela.