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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Vinte e Oito de Novembro

   Enquanto eu terminava de lavar minhas mãos no banheiro, antes de me sentar à escrivaninha de meu quarto e desembestar a escrever, pensava em como ia começar este texto que agora surge. Não sei se devo iniciá-lo pela última coisa que me ocorreu hoje ou se pelo primeiro raio de sol, que veio anunciando um dia inesquecível — não sei se bom ou ruim, mas marcante, é fato. Só sabia de uma coisa: escreveria sobre hoje.

   Agora, comendo um petisco artificial e, mais uma vez, estragando minha dieta que tivera início há uns quatro anos, acabo de perceber uma coisa: o parágrafo anterior não deixou de ser um início.

Vou começar pelo princípio, falando em Machado de Assis — eu, prepotente, comparando meu estilo ao de um dos maiores autores da literatura brasileira. Brincadeira, obviamente. Pois foi com Machado que meu dia teve começo.

   Tivemos que ler Memorial de Aires para fazer uma prova de Introdução à Teoria ds Literatura às oito da manhã. Terminei de ler o livro meia hora antes de a aula começar. Para a infelicidade — e não surpresa — de todos, a prova estava dificílima. O professor cobrou detalhes dos quais até o próprio Machado de Assis se esqueceria! Normal. Coisas de Sobral.

   Breve pausa para lamber meus dedos, completamente sujos de farelo do que restou de meu lanche.

   Onde eu estava? Ah! Na UnB!

   Pois fomos as quatro — Bárbara, Kamila, Thaís e eu — para a cafeteria do Pavilhão João Calmon depois da bendita prova. Precisávamos terminar de montar nosso seminário de Introdução à Linguística. Rimos muito, como é costume nosso, mas isso não vem ao caso. Não que esses momentos felizes não sejam importantes, ao contrário! Mas já os guardo com um sorriso no rosto e paz no coração. Acontece que, hoje, quero guardar no papel apenas as desgraças e desventuras. Veio-me esse desejo.

   Assim que chegamos à sala, fomos informadas de que não havia caixa de som. Adivinhe: nosso trabalho era metade vídeos. Deus, com piedade de nós, iluminou-me com uma lembrança: o pai de Thaís trabalha com internet na UnB.

   Correndo — da chuva e contra o tempo — chegamos à sala de informática e conseguimos as benditas caixas de som.

   Apresentamos o trabalho. Arrasamos, modéstia à parte. À parte nada! Modéstia ausente. Fomos, sim, o melhor grupo.
  Ao final da aula, recebo uma mensagem de texto da minha irmã: "Minha mãe esqueceu o celular em casa. Ela vai te pegar no ponto de ônibus."

   Como se existisse apenas um ponto de ônibus!

   Xinguei, óbvio. Xinguei muito. Praguejei. Amaldiçoei. Quase chorei. Vi... Uma chamada perdida de um número desconhecido. Era a amiga de minha mãe, me dizendo que esta me esperava no Mc Donald's, e não no ponto de ônibus, como afirmara a acéfala da minha irmã.

   Xinguei novamente.

   Ônibus nenhum passava. Num lapso de ódio e de "tenha pena de mim", liguei para meu pai. Ele não podia me buscar. Sugeriu que eu instaurasse o Comunismo nos Estados Unidos. Mentira, sugeriu que eu pedisse um taxi para minha mãe pagar, que é quase a mesma coisa. Deus, mais uma vez com misericórdia de mim, fez com que um ônibus parasse — felizmente, o que chega à L2 Sul sem passar pela Esplanada.

   Minha mãe não reclamou dessa vez. Também não havia sequer meia razão para culpar-me.

   Cheguei em casa, comi horrores e, não, não irei à academia. Foda-se.

   No ônibus, escrevi umas notas e pensei em escrever este texto. Já me dá preguiça...

   "Renuncio ao conforto dos bons sapatos em troca de uma boa noite de sono". Foi o que escrevi, referindo-me a minha tão sonhada saída de casa — quando irei abrir mão do conforto físico e material para buscar o conforto da alma.

   Era o que eu pretendia: fazer um texto sobre minha liberdade. Mas esqueci que sou preguiçosa. E quero entrar no chat e ver se falo com alguém.

   Considere isso um texto, leitor.

   Leitor... Quem lerá isso senão eu mesma?

3 comentários:

  1. Saudade de passar tardes de desgraças e desventuras com você! E impressionante como o que você escreve me vem à cabeça como se eu estivesse vendo tudo! Você tem o dom! Te amo, Marinha.

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  2. Tuzza, meu ego vai estourar desse jeito, sua linda! Hahaha TE AMO

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  3. Não quero nem saber, quero ler textos seus todos os dias. Seu jeito de escrever é muito viciante. Aliás, você tem muito talento com a ecrita.

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